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Obsessão

Olhe suas mãos, veja como estão contaminadas. Lave. Uma vez, duas vezes, não é o suficiente; três. Sim, este é o mínimo. Você está contaminada. Não bastam apenas água e sabão. Use álcool até queimar a superfície cutânea que envolve seus músculos. Arde. Há alguma purificação nisto que te liberta das mazelas que vão além de mãos e pés sujos. Um ritual que te livra dos mais diversos problemas que você acreditou, em vão, terem existido. Você não está apenas se limpando, está trocando de pele.
Tem agora, pelo ressecamento que lhe coça, as mãos de uma velha. Teus dedos roçam uns sobre os outros e depositam entre unhas a pele que se desfaz. Tudo precisa estar branco, limpo, melancolicamente puro.
Se por vezes os nervos te excitam de maneiras favoráveis e majestosas, também, noutras, rogam a presença do algoz.
Não é senhora dos seus pensamentos, ninguém o é; ninguém pensa só, conclui. Imagens lhe poluem a mente deliberadamente, a luta por contê-las não lhe renega nada além da exaustão das forças mentais. Consumindo uma energia que não possui. Quebra as pernas diante do altar, se seda e tudo ficará bem ao raiar, ainda que levante e caminhe vagarosamente pelas horas do novo dia.