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Delírio

O que faz aqui? Você não nos é igual. Todos acham que são, acham que sabem. Inflam-se ao dizer como são bravos e lidam bem com os próprios percalços e o calvário individual. Não, não é como nós. Eu os reconheço. Você, não. Tem lá suas aflições e foi esmagado pela vida, mas, certamente, não é um de nós. Aqui somos quebrados desde sempre, sem a necessidade de peso algum. O que quer? Pretende nos analisar. A troco de quê? Já disse, vejo que não é um de nós, tampouco é doutor.
O que me aconteceu? Para quê saber? Curioso. Vá!... Somos todos, tem a minha simpatia. Do mais, é bom conversar, embora eu não reserve a mim o hábito de fazê-lo.
Havia cinco dias que não dormia, tinha os olhos estalados e aflitos, não como o insone que simplesmente permanece desperto. Irrompia dentro da cabeça grande barulho aflitivo e crônico que não me permitia nada além de desespero. Tudo se tornou laranja. Ao caminhar, pessoas deixavam rastros cerúleos, tal qual uma minhoca cavando seu buraco. Não conseguia acompanhá-las. Olhava-as fixamente, uma hora estavam aqui, outra ali, como num passe de mágica, algo nesse meio tempo me faltava e eu me perdia de qualquer um.
Sim, fora feito isso e me reestabeleci, em partes.
Não, o que me trouxe aqui se passou depois. Creio que o senhor não tenha tempo ou disposição para isso.